Artur Vieira de Andrade
(PT)
Artur
Vieira de Andrade nasceu na Rua Antero de Quental, freguesia de Cedofeita,
Porto, a 14 de maio de 1913. Era filho de Manuel Vieira de Andrade e de Clara
Rodrigues de Vila Real. Desde
muito jovem interessou-se pela política, faceta que se revelou durante a
frequência do Liceu Rodrigues de Freitas e motivou a sua saída de casa, aos 18
anos de idade, por divergências familiares. Nessa altura passou a trabalhar
numa fábrica e mal teve possibilidade para o fazer matriculou-se no Curso de
Arquitetura na Escola Superior de Belas Artes do Porto. O seu talento para o
desenho foi reconhecido por esta escola, o que lhe valeu a oportunidade de
trabalhar no atelier do arquiteto Arménio Losa, em horário noturno, depois do
final das aulas. Na ESBAP frequentou o Curso Especial de Arquitetura, entre
1934 e 1937, e o Curso Superior de Arquitetura, entre 1941 e 1946. Após a
conclusão da licenciatura trabalhou numa empresa de construção civil. Em 1947, foi convidado pela Associação
Industrial Portuense a riscar o novo palácio de exposições no Jardins do
Palácio de Cristal, para as comemorações do 1º centenário da sua fundação.
Porém, o anteprojeto que riscou foi rejeitado pela Câmara, com a justificação
de que o seu autor era um opositor ao Regime. A deceção que sofreu foi em parte
ultrapassada pela solidariedade dos seus pares. Trinta e quatro arquitetos
assinaram uma carta, publicada na revista Arquitetura, na qual manifestaram o
repúdio pela injusta decisão da autarquia que, ignorando o mérito da obra, se
baseava em motivações meramente políticas. Embora não tenha edificado o Palácio
de Exposições, projetou o emblemático Cinema Batalha, na praça com o mesmo nome
da baixa portuense, no lugar do cinema High Life e nas proximidades do Cinema
Águia d'Douro. Trata-se de um edifício de linhas expressionistas e de grande
dinamismo, decorado com pinturas murais de Augusto Gomes, António Sampaio e
Júlio Pomar, e com esculturas alegóricas de António Braga e Arlindo Gonçalves.
Esta obra foi bem acolhida pelos portuenses, mas gerou polémica. O mural
neorrealista de Júlio Pomar foi interpretado pelas autoridades como um
manifesto comunista e por esse motivo foi destruído. A inauguração solene deste
espaço cultural aconteceu a 3 de junho de 1947. Durante décadas foi um dos
lugares preferidos de gerações de portuenses amantes da 7ª Arte, até cair num
processo de degradação do qual foi resgatado recentemente. Mais de meio século
volvido, o edifício renovado foi reinaugurado em 2006. O Batalha dispõe agora
de dois auditórios, dois bares, diversos foyers e um terraço reformado no
último piso, com vistas sobre a cidade, estando, por isso, preparado para
acolher eventos de diversos tipos.
Artur
Andrade foi também autor de muitas outras obras, como o Café Rialto, no qual
contou com a colaboração de três artistas plásticos (os pintores Dordio Gomes,
Guilherme Camarinha e o médico/artista Abel Salazar, que participaram na obra
com murais, e o escultor João Fragoso com um baixo-relevo, que desapareceu na
altura em que o café foi convertido numa agência bancária), o Prédio n º 500,
da Rua Delfim Ferreira e o prédio da FIAT, na Rua Latino Coelho, no Porto; a
Estalagem de São Tiago, em Entre-os-Rios; uma fábrica em Santo Tirso; algumas
obras em Vila Real e o prédio nº 718, na Rua Hintze Ribeiro, em Leça da
Palmeira, para onde o arquiteto foi viver no fim da vida, por muito apreciar a
praia. Na sua
carreira de arquiteto destacou-se, também, por ser um dos introdutores do
Modernismo e por ter sido membro da ODAM (Organização dos Arquitetos Modernos). Artur
Andrade não foi apenas um grande arquiteto. Foi também um cidadão politicamente
ativo, que sonhava com a criação de uma sociedade justa. Acompanhou
as tertúlias de António Sérgio e de Jaime Cortesão e, no início da vida, aderiu
aos ideais comunistas, dos quais se veio a afastar após a instauração da
ditadura russa na U.R.S.S.
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